As nossas vidas são por vezes alteradas por poderosas vertentes. Mas o que são vertentes? Vertente é uma palavra de origem latina que significa, literalmente, “que vira”, “que muda de direção” (a direção da água). No sentido existencial, vertentes são acontecimentos imprevistos que alteram significantemente o curso de nossas vidas – para melhor ou para pior – ou a combinação das duas coisas. A vertente pode ser um acidente, uma doença, um casamento ou um divorcio, uma humilhação ou uma recompensa, a morte de alguém querido ou o nascimento de um filho, a mudança de uma cidade para outra ou uma decisão importante; umas impostas, mas outras deliberadamente escolhidas por nós mesmos. Seja qual for o caso, as vertentes sempre dão um novo rumo a nossa vida.
A palavra de Deus nos fala de um homem cuja vida um dia foi cenário de varias dessas vertentes que de modo abrupto alteraram o curso de sua vida. Seu nome era José.
José conhecera a terrível vertente da violência, do ódio, e da ação humana beligerante. Fora tirado violentamente do seio de sua família e vendido por seus irmãos como escravo para uma caravana que se dirigia para o Egito. José viu todos os seus sonhos transformarem-se em poeira de um dia para o outro. De herdeiro a escravo; da túnica talar de mangas compridas, aos trapos ultrajantes da escravidão. José também conhecera a vertente da injustiça. Envolvido pelos tentáculos da tentação soube responder com nobreza, com grandeza de caráter. Foi galhardo na afirmação do seu compromisso irredutível com o seu Deus e o próximo. Não obstante a isso, José foi vitima da injustiça humana. Foi lançado na masmorra por longos anos mesmo em face de sua integridade. Ali sua alma se fartou de desprezo, abandono, indiferença, e o que é pior de esquecimento. Parecia que a vida de José se transformara numa espiral de vertentes que dava sempre para baixo. Mas o que fazer quando as nossas vidas são palco dessas vertentes que alteram tão bruscamente o curso de nossas vidas fazendo-as convergirem para o plano da dor, do desprezo, da solidão, do abandono?
A vida de José nos apresenta algumas verdades da Palavra de Deus com as quais nós podemos sempre ser triunfantes sejam quais forem as vertentes que a vida nos apresente.
1. Nunca deixar que as circunstancias alterem os conteúdos do nosso coração. Como é que José foi triunfante diante de todas essas vertentes que mudavam sucessivamente a sua vida? Ele jamais permitia que as circunstâncias (favoráveis ou desfavoráveis) alterassem os conteúdos do seu coração. As circunstâncias jamais mudaram os rumos do seu coração. Seu coração sempre era o mesmo. Quer nos momentos de alegria, quer nos momentos de tristeza. José jamais deixou que as circunstâncias determinassem os conteúdos e o rumo do seu coração. Nas funestas circunstâncias da derrota ou na tempestiva alegria da vitória o seu coração era o mesmo – sempre leal ao seu Deus, sempre integro em suas motivações, sempre indulgente para com o próximo. Quer na obscuridade da enxovia, quer nas rodas da badalação da corte. O seu coração era o mesmo sempre. Quer diante dos olhares atentos dos outros servos, quer na solicitude tentadora e convidativa da casa vazia de Potifar. O seu coração permanecia inalterado. As vertentes circunstanciais podiam alterar o curso histórico da sua vida (para cima ou para baixo) mas jamais o seu coração.
2. É preciso atentar para a mão firme de Deus em nossas transições. Quando nós lemos a história de José a primeira coisa que nos vem à mente é: onde estava Deus diante de todas aquelas injustiças? Como é fácil ver Deus nas coisas boas (e às vezes não está). Difícil é ver Deus na experiência da masmorra de José. Geralmente nos perguntamos: “onde está Deus quando damos em uma masmorra? Onde está Deus quando somos transportados do conforto do palácio para a desconfortável masmorra da injustiça? Cadê Deus quando essas vertentes acontecem? Ele está onde sempre esteve – ao nosso lado com a sua mão firme em toda as nossas transições. Gênesis 39:21-23 diz: ”O Senhor era com José”. Deus sempre esteve ali. Ele jamais se ausentou de sua vida. Ele jamais foi embora. Em todos os momentos de sua vida Ele sempre esteve presente. Jamais partiu. Aonde quer que José estivesse a mão do Senhor era com Ele. Não importava aonde a vertente o levasse: “A mão do Senhor era com José”. Levando-o cada vez mais próximo do triunfo – mesmo que para isso fosse necessário descê-lo à masmorra.
3. Não importa o que os outros façam conosco, o que importa é o que faremos com aquilo que os outros fizeram conosco. José sempre foi um homem triunfante diante das vertentes porque ele sempre foi capaz transformar todas as ações humanas (ou desumanas) contra sua pessoa numa oportunidade de crescimento. É interessante que a cada golpe que a vida lhe dava a Palavra de Deus diz que “José prosperava”. Quanto mais as pessoas o empurravam para baixo, mais ele subia. Quanto mais ele descia por causa das traições humanas, mais ele se aproximava do trono – ele fez da masmorra foi a sua ante-sala do trono. Para ele não era importante o que os outros faziam com ele, mas transformar cada atitude num degrau a mais rumo ao propósito de Deus para sua vida.
É impossível determinar quando, aonde ou quais vertentes irão nos atingir. Mas é possível sobreviver a elas, e o que é melhor, faze-las convergir para a nossa felicidade e para a glória de nosso Deus. Mas para isso é necessário abandonar a nossa costumeira posição passiva de vitimas para uma atitude positiva como a de José do Egito que foi capaz de confiar em Deus, cuja mão é firme e presente em toda as nossas transições.
Pensemos nisto, e que Deus nos abençoe!
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